Sentada debaixo daquela ponte majestosa, ouvindo o barulho dos carros a passar por cima de si como se fossem trovões a rebentar, observava as luzes reflectidas no rio e sentia o conforto do silêncio que a rodeava. Era o primeiro dia de Verão, mas a noite estava fria e a brisa gelava-lhe a pele outrora quente.
A sua alma estava num turbilhão de sentimentos e lembranças, tendo flashes do passado antigo e também do mais recente. Braços quentes envolviam-na, aquecendo o seu corpo e alma, fazendo surgir um sorriso no seu rosto sereno. O seu corpo tinha um cansaço bom, diria até prazeroso, e as feridas das suas aventuras, que mais tarde virariam cicatrizes, sabiam-lhe bem, pois lembravam-lhe momentos felizes e bem passados.
A dor dentro dela e as lembranças más faziam parte do que ela era, faziam-na ter medo, mas o ser humano belo que a acompanhava, dava-lhe esperança e confortava a sua alma por vezes frágil.
O silêncio imperava e completava o momento, o seu olhar pensativo e meio perdido ligava-se ao da pessoa que estava ao seu lado, e ambas cavalgavam rumo a um destino incerto, mas esperançoso, pois tudo até ali tinha sido bom e fácil, confortável e diferente de qualquer vivência que tinham tido até então.
O cheiro da relva molhada confundia-se com os seus odores corporais e com os perfumes assentes nos seus corpos, embriagando o ambiente e embrenhando-se nas suas mentes, para que quando a saudade surgi-se, houvesse alguma coisa para reconfortá-las e trazê-las mais facilmente áquela noite fria por fora, mas quente por dentro.
“I lost my heart
Under the bridge
To that little girl
So much to me”
(Pj Harvey - Down by the water)
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