24 de junho de 2009

Rio

O sangue escorria pelas suas pernas à medida que corria velozmente por entre as plantas, devido aos cortes abertos que tinha. O sol do fim da tarde batia-lhe nas costas e fazia com que ela visse a sua sombra diante de si, fazendo-a pensar que realmente aquele momento estava a ser real e não um sonho.
As suas pernas tremiam de cansaço, mas ela não podia parar de correr. Os seus braços doiam-lhe, meio dormentes, mas não podia baixá-los, porque senão perdia o equilíbrio no corpo. A sua cabeça latejava com os acontecimentos recentes que tinha vivido, mas não conseguia deixar de pensar neles. Da sua boca desprendiam-se pequenos gemidos de dor e ao mesmo tempo de prazer, enquanto corria a um ritmo rápido e constante a caminho do rio, que se encontrava a poucos metros de si.
O suor fazia com que a sua roupa se colasse ao seu corpo quente e esguio, naquele final de tarde abafado, onde nem uma pequena brisa se podia sentir. As suas feridas ardiam e anseavam por ser limpas, assim como o seu rosto salgado das lágrimas e do suor. Os seus pulmões pediam descanso e o seu coração também, entorpecidos pelo cansaço do esforço da corrida.
Mal alcançou o rio, mergulhou as suas vivências e renasceu em parte, afogando as suas tristezas e mágoas, na tentativa de esquecer o passado e lavando o seu corpo para um futuro mais risonho, que ela sabia estar para vir brevemente. As cicatrizes fechavam-se e as feridas que ardiam, lembravam-lhe que estava viva e que tinha de continuar sem medo e tenazmente o percurso da sua vida, assim como acontecia com o curso daquele rio, que nunca parava e que a cada dia se renovava com a passagem de nova água.
O seu reflexo na água revelava o contraste que havia em si, vendo reflectido duas pessoas diferentes, uma era ela no passado e a outra era ela no futuro, tendo assim de misturá-las e dar origem a um “eu” do presente mais íntegro e forte.
Despia-se da sua roupa suja e dos seus medos, mergulhava livremente naquela água límpida, lavando a sua alma e nadando nua, despindo-se dos seus complexos e vergonhas, como se fosse uma sereia encantada, cheia da magia que é a vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

este já eu conheço e passamos a vida assim não é? :) una mierda.. lembrei-me que tenho de fazer um post ao sonic por me ter esquecido dele em casa hoje :(*