30 de novembro de 2009

Os Sinais do Medo - Ana Zanatti

Adorei este livro, aborda a homossexualidade de uma perspectiva diferente, com histórias diversas de várias gerações.

"Neste momento não me podes ouvir, embora eu nunca me tenha sentido tão perto de ti. Foi sempre umas das minhas grandes interrogações. A eficácia do que tentamos comunicar, a traição das palavras, a capacidade de nos compreendermos uns aos outros. Como vencer esta espécie de autismo que nos condena à solidão?"

21 de novembro de 2009

Porcupine Tree

Foi a música que fechou o concerto de ontem, que foi espectacular! Foi uma agradável surpresa realmente, pois fui para o concerto conhecendo umas 2/3 músicas da banda, e saí de lá a adorar e a querer ouvir tudo deles!

16 de novembro de 2009

In chains - Depeche Mode

Foi o melhor concerto da minha vida e vi-o na primeira fila! xD

Fica aqui uma das músicas que mais gosto deles, e que me fez cantar e gritar feita doida =P

A rouquidão foi do melhor no dia a seguir! Mas valeu tudo a pena!

"Let me see you stripped down to the bone..."

3 de novembro de 2009

Arco-íris

“Pinta em mim as cores do arco-íris por favor...” pediu-me ela sussurando ao ouvido, com aquela voz doce como o mel, esboçando um sorriso tímido, como se fosse uma menina de 5 anos e não uma mulher adulta já.
Eu acedi ao seu pedido e procurei o meu estojo antigo de arte, que usava até à adolescência nas disciplinas de trabalhos manuais. O estojo estava até com pó, mesmo estando guardado no gavetão debaixo da minha cama, pois já não era usado há anos. Tirei os pincéis e as aguarelas de lá, fui buscar água à cozinha e quando voltei ela estava sentada de pernas cruzadas e braços repousados por cima dos joelhos, com os seus olhos grandes e escuros, envergando um sorriso maroto, olhando fixamente para cada movimento meu.
Quando preparava as coisas, ela chamou-me para perto de si, para eu me sentar em frente a ela. Beijou-me e começou a desenhar com os seus dedos na minha cara, depois pescoço e finalmente braços, provocando em mim uma onda de arrepios e sensações de prazer. O seu toque era tão subtil e ela tocava-me tão ao de leve, que fechava os olhos e era capaz de ouvir o meu coração bater apressadamente, era capaz de ouvir a sua respiração ofegante a misturar-se com a minha, capaz de visualizar tudo o que estava acontecer, apenas de forma mental e sensitiva.
Elas gostavam de ter espaço e tempo para ligar aos detalhes, aos 5 sentidos que os seres humanos têm, por isso concentravam-se para ouvir, ver, sentir, cheirar e saborear tudo em cada momento.
“Para te pintar, tenho que te despir a camisola e vendar os olhos, para que sintas o que estou a fazer e para depois quando vires o trabalho final ser uma surpresa, pode ser?” perguntou a pseudo-artista, ao qual a outra acedeu prontamente.
Após lhe tirar a camisola e vendar os olhos, pedi que se deitasse e pintei-lhe na barriga um arco-íris e uma cara sorridente, usando o umbigo como nariz, fazendo uns olhinhos de chinês por cima e uma boca enorme a sorrir.
Quando achei que a minha obra-prima estava acabada e bem feita, retirei-lhe a venda dos olhos, apercebendo-me que o soutien rosa completava a paleta de cores. Ela olhou para baixo maravilhada e desatou a rir por causa da cara que eu tinha feito por baixo do arco-íris. Abraçou-me e com a cara iluminada à meia-luz, devido à luz que se extinguia lá fora por causa do final da tarde, disse-me toda eufórica “Pintaste um arco-íris e uma cara sorridente em mim, tornando-me uma pessoa melhor. Agora só te falta fazer o mesmo por outras pessoas que também precisam de sorrir de forma espontânea e precisam esquecer a sua dor, como é o caso de crianças que estam em sofrimento por vários motivos, por exemplo, doença...”.
A ideia entrou-me na mente como um projéctil e fez com que se acende-se uma lâmpada que há muito tinha sido fundida, por falta de iniciativa ou coragem, que foi a de fazer voluntariado, ajudando crianças que precisam de preferência.
Dei-lhe a mão com força e senti uma onda energética correr entre nós, como a concretização de um objectivo, numa tarde cinzenta de Outono que à partida não tinha nada de diferente das outras, mesmo que fossem tardes luminosas, tendo esta um propósito.
Eu disse entusiasmada: “Já que gravei na tua pele essas cores todas e na nossa mente este momento único e lindo, acho que vou começar a pintar sorrisos de arco-íris onde puder.”
O final da tarde foi passado a rir e sentindo aquela felicidade conquistada aos poucos, da melhor forma possível, sendo esta acompanhada de sentimentos que flutuavam no ar, contacto físico intenso (misturando-se as tintas nos dois corpos femininos) e bonitas perspectivas futuras, que solidamente se tornariam projectos de vida.

2 de novembro de 2009

Plateau

As luzes incidiam sobre ela, cegando-a. Encontrava-se no meio daquele campo amplo e todas as luzes existentes, iluminavam-na. Ela só estava cega porque queria, pois tinha sempre a hipótese de fechar os olhos ou sair dali. Mas por preserverança ou teimosia permanecia imóvel no mesmo sítio, perdendo a noção do tempo ou de quem era naquele momento.
Uma chama ardia dentro dela, deixando que o que a cegava no exterior, chegasse ao interior também, inflamando assim todo o seu ser.
A cegueira exterior fez com que ela se concentrasse no seu interior, analisando os factos irreversíveis e inegáveis do seu passado, que vagueavam sem destino dentro de si, pois não conseguiam encontrar uma saída para o exterior. Essa libertação era necessária há muito, mas vinha sendo adiada, por falta de tempo e espaço, ou então por ela reprimir o que sentia e queria na realidade.
Fechou então os olhos e inspirou bem fundo, sentindo-se e sentindo o que estava à sua volta, pois de olhos fechados a realidade torna-se bem diferente, pois estar sozinha na escuridão pode ser assustador ou reconfortante, principalmente quando só o silêncio nos circunda. Tudo depende de como se lida com a situação. Ela optou por ficar calma ao tentar entender o turbilhão de sentimentos e emoções que iam dentro dela, ouvindo o seu coração e apelando ao seu lado racional, que lhe dizia para libertar tudo de uma vez por todas, pois o passado estava a consumir o presente há demasiado tempo e há coisas com as quais não se pode lutar.
Chega sempre o momento em que se tem de parar de lutar contra as coisas e principalmente contra nós mesmos, e ela apercebeu-se disso, quando se deu conta que não podia mesmo ver com aquela luz toda a incidir sobre os seus olhos frágeis.
Estudou todas as suas particulas ao pormenor, tentou recordar-se das coisas importantes da sua vida até então, sentir ao máximo o que o ambiente envolvente lhe transmitia e perceber o que queria naquele instante.
Chegou à conclusão que era ver com clareza, era sair daquele campo enorme e vazio, onde se sentia tão pequena como uma formiga e voar, voar o mais longe possível, para conhecer sítios novos e coleccionar lembranças inesquecíveis. Tudo residia na diferença dos seus actos, dos seus pensamentos e na forma de ver os sentimentos, através da introspecção e aceitação da iverosímel verdade.
Finalmente abriu os olhos. As luzes tinham baixado e agora que se sentia mais livre, podia caminhar firmemente e ver o que a envolvia, um campo à meia-luz, vazio, mas cheio de sentimentos libertados e energias renovadoras. E ela estava também cheia, pois as lágrimas tinham corrido pelo seu rosto e abandonado o seu interior confuso e preso há tanto tempo, dando-lhe a opção de optar entre fugir ou encarar de frente as suas escolhas. Ela optou por encarar a realidade e viver consoante a mesma, sendo sempre fiel aos seus objectivos e sonhos.
Correu velozmente pelo campo, sentindo o cheiro a relva molhada da chuva que começava a cair levemente sobre si, sorrindo com vontade e inspirando profundamente a sua liberdade.