Escutando no vento
Tua voz secreta
Que me sopra por dentro
Deixa-me ser só ser
No teu colo eu me entrego
Para que me nutras
E me envolvas
Deixa-me ser só ser
Um ponto de luz
Que me seduz
Aceso na alma
Um ponto de luz
Que me conduz
Aceso na alma
Por trás dessa nuvem
Ardendo no céu
O fogo do sol raia
Eternamente quente
Liberta-me a mente
Liberta-me a mente
Um ponto de luz
Que me seduz
Aceso na alma
Um ponto de luz
Que me seduz
Aceso na alma
O seu corpo deslizava languidamente pelas pedras da calçada, os seus pés descalços e ensanguentados suportavam o seu peso leve, mas que devido ao cansaço, parecia pesado.
A noite tinha sido longa e extenuante, e agora aos primeiros raios de Sol, a cidade parecia-lhe ainda maior, pois via tudo claramente, ao contrário de quando era de noite e via as coisas parcialmente, à luz artificial e ténue dos candeeiros, da luz das montras das lojas e da Lua, que quase desaparecia num céu estrelado, mas com nuvens.
Deambulou horas a fio, tentando encontrar um lugar calmo e aconchegante, mas sem sucesso. Só agora de manhã é que conseguia ter consciência do que procurava, um lugar onde se pudesse isolar do mundo e sentir paz e vida pura.
Estava tão cansada dos mesmos sítios, pessoas e sentimentos... Não havia praticamente nada de novo, onde se pudesse ligar e sentir inteira. Por isso decidira vaguear pela cidade de noite, onde tudo é mais calmo e silencioso, pois sentia essa necessidade.
A noite toda andou e nada de novo viu. Só quando o dia começou a nascer e já não sabia onde estava, encontrou um jardim. Não se sentiu nada perdida mal o viu, muito pelo contrário, sentiu que encontrou o sítio que procurara a noite toda e resolveu entrar pelos portões convidativos, enferrujados pelo tempo.
Os seus pés em contacto directo com o solo devolveram-lhe o sorriso que há muito não existia no seu rosto, o vento acariciou-lhe a cara e as mãos, fazendo todo o seu corpo balançar alegremente. As feridas já não lhe ardiam, os seus olhos cansados e sem vida, ficaram atentos e vivaços, quando contemplaram a beleza da Natureza e foram envolvidos pela paz ali presente naquele jardim escondido no meio da civilização frenética e apática que há numa grande cidade.
Deu gargalhadas de satisfação, rodopiou até cair no chão de tão tonta que estava. Tinha encontrado um refúgio e isso era uma lufada de ar fresco na sua vida, sabia bem.