Quando te arrancam partes da pele à dentada e te roubam também bocados da alma, levando quase tudo aquilo que ainda era puro e estava intacto... Nem olham para a tua alma, não te vêem, não te reconhecem, apenas querem o teu corpo e não vêem o mal que há nisso, somente te querem fisicamente, corrompendo as partes boas da tua alma, aquelas que podiam ser aproveitadas para algo bom e grande, mas que assim ficam perdidas na calçada da vida e talvez nunca mais sejam possíveis de ser recuperadas...
E tu queres lutar, fugir, vencer... Mas deixaste ir levada pela luxúria e o prazer momentâneo, acordando passado horas, perdida de ti e sem pontos de ligação que te prendam à vida que sonhaste, tranquila e feliz. Sentes-te um bocado de carne, sem alma e sem rumo. E permites que te arranhem, te firam mais uma vez, te deitem mais abaixo as barreiras protectoras da tua pele, já vermelha dos arranhões e das dentadas. E mergulhas na dor e parece que ficas insensível ao toque, seja este ligeiro ou intenso.
E vês o outro lado, aquele onde és capaz de encontrar paz e conforto. Mas parece-te tão longe que nem sequer tentas lá chegar, pois parece-te inalcansável e não queres lá ir também por medo e por saberes que algo tão puro te trará dor e sentimentos que fizeste o máximo de esforço por enterrar e apagar das tuas memórias. Sentes-te incapacitada para lutar, como se fosse impossível atingir o zenith da tua mente e corpo, como se te contentasses com uma felicidade banal e socialmente aceite, só porque sim, esquecendo o nirvana com que sonhaste.
E tudo devido à tua fraqueza humana, mais uma entre milhões...