7 de maio de 2009

High Heels

Sorrisos forçados. Olhares vazios. Corpo rígido e em tensão. Almas perdidas, a vaguear no espaço intemporal que é a vida.

Ela percorria a rua, com os sapatos de salto alto na mão, que lhe pareciam pesados (apesar do seu peso leve), arrastando o seu corpo cansado e a sua mente exausta, de tanto pensar, pelas pedras da já tão polida calçada.

Avançava lentamente, olhando tudo à sua volta, como se da primeira vez se tratasse. Via sofrimento, futilidade, cinismo, entre outros sentimentos e aparências negativas.

Também ela estava perdida, mas desta vez havia a variante de ter desistido de lutar, tentar ser alguém que não era, nem nunca ia ser. Não ia mais ceder ao cliché da sociedade, tentar ser uma senhora, quando interiormente se sentia uma menina, que ainda tem vontade de usar roupa e calçado confortável, sentir-se livre em quase todos os aspectos e não andar presa ao conceito de responsabilidade que é imposto, até quando se sai à noite.

Por momentos sentou-se na berma da estrada, olhando à volta os corpos todos produzidos e falsos das mulheres que passavam e pensou para consigo “Eu sou livre e elas não”. Deu-lhe então uma imensa vontade de rasgar o seu vestido, de correr descalça pela rua, pisar as poças de água que se encontravam ao longo da estrada e sentir-se viva como quando era pequena e despreocupada.

Doiam-lhe os músculos e em particular os pés, pois os saltos altos tinham-lhe causado bolhas e feridas que ardiam incansavelmente há horas. Uma trovoada ouviu-se no céu e ela assustada, levantou-se e começou a correr, esquecendo as dores que a impediam de andar mais rápido ou mesmo correr anteriormente, fugindo de medo. Sentiu-se livre e assustada ao mesmo tempo, uma mistura estranha de sensações e parecia que tinha recuado uns anos, quando corria assustada para o quarto dos seus pais a meio da noite quando havia trovoada, mas a diferença aqui é que era já uma jovem e corria pela rua, após ter saído duma discoteca onde tinha ido com os amigos dançar e fingir ser alguém que não era.

Gotas de água. Cansaço físico de tanto correr. Sensação de liberdade. Uma alma encontrada e feliz consigo mesma, encaminhando-se para a suposta paz interior que o ser humano deve alcançar na chamada: vida.

2 comentários:

Someone, No One disse...

Só te comento como deve de ser quando comentares os meus textos.

*deita a lingua de fora*

Inês Bexiga disse...

Paz interior... às vezes aparece nas alturas mais estranhas, é verdade... mas há coisas que nos fazem senti-la, mesmo quando menos se espera.

Gostei do texto! Agora espero por outro :D

Miss you *****